A força das palavras

 mudanca-de-sexo

O presidente dos EUA, Barack Obama, é considerado um homem que inspira multidões com seus discursos. Ele acabou de fazer um bom discurso aqui na sua visita ao Brasil, sendo carismático e simpático aos brasileiros, citando trecho de música brasileira e trecho de livro de escritor brasileiro, conquistando a galera. Certamente, seus discursos entrarão na galeria dos grandes discursos dos ex-presidentes que marcaram época. (É incrível como presidentes de outros países usam os discursos para dizer abobrinhas, metáforas de mau gosto e tolices as mais diversas…). Lembro-me de Obama, quando era senador do Estado de Illinois. Naquela época , eu estava morando na cidade de Urbana naquele estado, realizando meus estudos na Universidade de Illinois. Já desde aquela época tinha fama de bom tribuno.

O discurso de posse da presidência de Obama foi inspirador e impressionante em 2009. Sem olhar para papel algum ou teleprompter, ele fez um discurso digno para inflar confiança e esperança na medida certa junto ao povo de todo o mundo. Uma coisa curiosa que um analista já havia notado nos discuros de Obama é que, se me perguntarem de qual parte gostei mais do discurso, não saberia dizer. O discurso já evaporou da minha lembrança totalmente. Não consigo lembrar uma frase sequer. Mas fiquei inspirado e entusiasmado! Gostei dos termos e da entonação. Enfim, comprei o discurso.

O discurso não é apenas importante para políticos. Também é muito importante para os economistas venderem as suas idéias. A persuasão no discurso é ponto pacífico na profissão. Isso porque a economia é uma ciência que tem dificuldades de fazer experimentos controlados a fim de determinar direções de causalidade nas relações econômicas.  Diante disso, contar uma historinha para vender os seus resultados e achados científicos é fundamental.

Quem descobriu isso, foi um economista chamado Donald McCloskey num artigo em que ele usou de toda a sua persuasão. Alguém pode dizer que cometi um erro, pois quem escreveu isso não foi um economista, mas sim uma economista chamada Deirdre McCloskey. Na verdade, é a mesma pessoa.

O que aconteceu é que Donald mudou de sexo e virou Deirdre… Uma história hilária foi de um economista brasileiro que fez doutorado, orientado por Donald McCloskey. O brasileiro terminou os créditos e voltou para o Brasil a fim de desenvolver a tese por aqui. Mantinha contato com McCloskey apenas por e-mail. Depois de algum tempo, voltou aos EUA para defender a tese. Desavisadamente, foi procurar o Donald e encontrou a Deirdre na sala… Pensou que era a mãe dele. Que saia justa! Literalmente!

Vi Deirdre numa apresentação no Encontro Nacional de Economia, realizado em Recife no ano de 2007.  De rosto, dá para passar por uma mulher madura. Mas o corpo ainda guarda as formas tomadas pela quantidade de testosterona liberada por um homem ao longo da vida. Mas o cara, oops, a cara é uma economista importante e mantém um site muito bem desenvolvido na internet: http://www.deirdremccloskey.com/index.php. Vale conferir!

Trilha Sonora do Post

“Aquarela” de Toquinho:

Uma resposta to “A força das palavras”

  1. Diego Rodrigues Says:

    Professor;

    McCloskeys à parte, muito pertinentes os teus comentários acerca do “poder das palavras” para um economista! Vale lembrar, por exemplo, que um deles que melhor se utilizava da retórica era Adam Smith: sua “mão invisível” é talvez o mais tradicional e “pop” instrumento de retórica da nossa ciência.

    Sobre isso, vale citar também o trabalho do Pérsio Arida, “A História do Pensamento Econômico como Teoria e Retórica”, elaborado na mesma época em que McCloskey elaborava o seu.

    Abraço!

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