Archive for the ‘Ciência’ Category

Mão Invisível versus Mão Visível

setembro 20, 2016

Two hands clasped arm wrestling (strong and weak), Unequal match

Governo costuma ser menos eficiente do que o mercado. A fonte da ineficiência reside no fato de que o empresário busca maximizar lucros, ao passo que gestor público procura maximizar o seu tempo no cargo. Por exemplo, a maior preocupação do presidente de uma estatal é permanecer na presidência a qualquer custo. Para isso, precisa agradar ao político que o nomeou.

Além disso, existe a questão do desperdício. Empresário não gosta de perder dinheiro, pois seu bolso fica menos cheio. Para o gestor público, tudo bem perder dinheiro, pois o dinheiro público é público, portanto, é de todos e de ninguém ao mesmo tempo.

Sem falar na corrupção. “Ah”, dirá o leitor implicante, “mas empresas privadas também se envolvem em corrupção, como já está provado pela operação lava-jato”. Sim, mas existe uma pequena diferença aí. Empresas privadas se envolvem em corrupção para ganhar dinheiro. Empresas públicas são forçadas a se envolver em corrupção para perder dinheiro. Vide o caso da Petrobras.

Como sempre em economia, provar e quantificar a ineficiência da mão visível do governo (ou outra coisa qualquer) é difícil, uma vez que é quase impossível se fazer experimentos controlados. Ainda no embalo dos grandes eventos esportivos realizados recentemente no país, seria como fazer o seguinte: comparar o custo do estádio do Maracanã construído pelo governo com o custo do Maracanã, caso ele fosse erguido pela iniciativa privada. Evidentemente esse experimento é ideal e não pode ser feito, porque o Maracanã já fora construído pelo setor público.

Mas podemos usar um experimento natural para tentar construir um contrafactual (mas não um estádio). Na cidade de São Paulo, foram construídos dois estádios que, senão idênticos, são muito parecidos. E um foi construído pela iniciativa privada e o outro foi feito seguindo a lógica do setor público.

Estou falando do Allianz Parque, do Palmeiras, e da Arena Itaquera, do Corinthians. Esses dois estádios são muito parecidos. Possuem quase a mesma capacidade (47.605 do Itaquerão contra 43.713 do Allianz Parque). Foram erguidos na mesma cidade quase ao mesmo tempo (período de 2011 a 2014 para o Itaquerão contra 2010 a 2014 para o Allianz Parque).

Com base nisso, seria razoável supor que os dois estádios tivessem o custo de construção parecido. Mas não é isso que verificamos na realidade. O Allianz Parque (o nosso contrafactual), construído pela empresa W Torre, custou R$ 630 milhões, em valores de 2014. A Arena Itaquera, construída pela Odebrecht com financiamento predominantemente público  (BNDES, incentivos da Prefeitura de São Paulo, Banco do Brasil etc) custou R$ 1,150 bilhão, também em valores de 2014. Quase o dobro!

Essa diferença pode dar uma ideia, mesmo que precária, da ineficiência e do desperdício (sem falar em outra coisa) de algo feito pela mão visível do governo vis-á-vis alguma coisa elaborada pela mão invisível do mercado.

Evidentemente que esse simples exercício para medir a ineficiência da mão visível do governo não envolve um experimento ideal. Os dois estádios não são idênticos, mas apenas parecidos. Por exemplo, o Allianz Parque é considerado uma das mais modernas e belas arenas do mundo, como pode ser visto nas imagens abaixo:

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Já o Itaquerão…

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Acho que o arquiteto que fez o projeto desta arena era corbusiano, ou seja, um seguidor de Le Corbusier, lendário arquiteto franco-suíço.

Posso até imaginar a situação. Chegou o momento de elaborar o projeto da Arena. O arquiteto que estava sem nenhuma ideia pensou assim: “Oh meu Deus! Oh Céus! Oh dor! Que projeto faço agora?” Passando os olhos pelo escritório, pousou-os na impressora em cima da mesa. “É isso!”, exclamou o nosso arquiteto, pouco inspirado.

Trilha Sonora do Post

“Viva la vida” by Coldplay live at Allianz Parque in São Paulo:

A força das palavras

março 21, 2011

 mudanca-de-sexo

O presidente dos EUA, Barack Obama, é considerado um homem que inspira multidões com seus discursos. Ele acabou de fazer um bom discurso aqui na sua visita ao Brasil, sendo carismático e simpático aos brasileiros, citando trecho de música brasileira e trecho de livro de escritor brasileiro, conquistando a galera. Certamente, seus discursos entrarão na galeria dos grandes discursos dos ex-presidentes que marcaram época. (É incrível como presidentes de outros países usam os discursos para dizer abobrinhas, metáforas de mau gosto e tolices as mais diversas…). Lembro-me de Obama, quando era senador do Estado de Illinois. Naquela época , eu estava morando na cidade de Urbana naquele estado, realizando meus estudos na Universidade de Illinois. Já desde aquela época tinha fama de bom tribuno.

O discurso de posse da presidência de Obama foi inspirador e impressionante em 2009. Sem olhar para papel algum ou teleprompter, ele fez um discurso digno para inflar confiança e esperança na medida certa junto ao povo de todo o mundo. Uma coisa curiosa que um analista já havia notado nos discuros de Obama é que, se me perguntarem de qual parte gostei mais do discurso, não saberia dizer. O discurso já evaporou da minha lembrança totalmente. Não consigo lembrar uma frase sequer. Mas fiquei inspirado e entusiasmado! Gostei dos termos e da entonação. Enfim, comprei o discurso.

O discurso não é apenas importante para políticos. Também é muito importante para os economistas venderem as suas idéias. A persuasão no discurso é ponto pacífico na profissão. Isso porque a economia é uma ciência que tem dificuldades de fazer experimentos controlados a fim de determinar direções de causalidade nas relações econômicas.  Diante disso, contar uma historinha para vender os seus resultados e achados científicos é fundamental.

Quem descobriu isso, foi um economista chamado Donald McCloskey num artigo em que ele usou de toda a sua persuasão. Alguém pode dizer que cometi um erro, pois quem escreveu isso não foi um economista, mas sim uma economista chamada Deirdre McCloskey. Na verdade, é a mesma pessoa.

O que aconteceu é que Donald mudou de sexo e virou Deirdre… Uma história hilária foi de um economista brasileiro que fez doutorado, orientado por Donald McCloskey. O brasileiro terminou os créditos e voltou para o Brasil a fim de desenvolver a tese por aqui. Mantinha contato com McCloskey apenas por e-mail. Depois de algum tempo, voltou aos EUA para defender a tese. Desavisadamente, foi procurar o Donald e encontrou a Deirdre na sala… Pensou que era a mãe dele. Que saia justa! Literalmente!

Vi Deirdre numa apresentação no Encontro Nacional de Economia, realizado em Recife no ano de 2007.  De rosto, dá para passar por uma mulher madura. Mas o corpo ainda guarda as formas tomadas pela quantidade de testosterona liberada por um homem ao longo da vida. Mas o cara, oops, a cara é uma economista importante e mantém um site muito bem desenvolvido na internet: http://www.deirdremccloskey.com/index.php. Vale conferir!

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“Aquarela” de Toquinho:

And the IgNobel goes to…

março 19, 2011


Costuma-se dizer que Deus é um cientista maluco. E como ele fez o homem à sua imagem e semelhança… Pensando nisso, a AIR (Annals of Improbable Research – Anais da Pesquisa Improvável), desde 1991, homenageia pesquisadores de todo o mundo que fazem pesquisas inúteis, incomuns, para não dizer amalucadas.

Todos os anos são agraciadas dez áreas do (des)conhecimento. Como dizem os organizadores do Prêmio, são pesquisas que descobriram coisas “que fazem a gente rir e depois pensar”. Algumas delas fazem a gente rir, rir, rir e aí a gente nem tem tempo de pensar se existe alguma lógica no que foi feito…

E como não poderia deixar de ser, existe o prêmio para a Economia. Por exemplo, o último IgNobel de Economia foi para três caras que descobriram que as gorjetas das dançarinas do ventre variam conforme a fase em que se encontram no ciclo menstrual. Deveras, muito relevante!

Em 2005, ganhou o economista Gauri Nanda, do MIT, que interessado em aumentar a produtividade do trabalho e combater o absenteísmo, inventou um despertador que, quando toca, corre e se esconde do seu dono, fazendo o pobre coitado se levantar de qualquer jeito e encarar mais um árduo dia de trabalho.

Em 2000, foi agraciado o pastor Sun Moon por tornar eficiente a indústria de casamentos em massa. O homem começou meio devagar: em 1960, ele celebrou  só 36 casamentos. Em 1968, já foram 430 casamentos. Em 1975, 1800 casamentos. Em 1982, 6000 casamentos. Em 1992, Sun Moon começou a acelerar, celebrando  30 mil casamentos! Em 1995, foram 360 mil casamentos! Mas o ápice foi atingido, em 1997, quando Moon proclamou marido e mulher em, nada menos, nada mais, do que 36 milhões de casamentos!!!

Um outro ganhador do prêmio de Economia, um legítimo merecedor do IgNobel, foi o chileno Juan Pablo Davila, um operador do mercado de derivativos de uma empresa estatal chilena, chamada Codelco, que instruiu seu computador a “comprar” ações, quando na verdade, ele, Juan, queria que o computador as vendesse. Foi um ledo engano de programação… Mas fez a Codelco perder uma grande quantidade de dinheiro. Mas Juan não se deu por vencido. Percebeu que tinha errado, pisado na bola mesmo, e começou a tentar recuperar as perdas financeiras para a Codelco, fazendo todo o tipo de operações arriscadas para consertar o dano financeiro realizado. Infelizmente, não deu para recuperar. Na verdade, ele só conseguiu ampliar as perdas: no final, ele sozinho perdeu 0,5% do PIB chileno com as suas operações desesperadas. Desnecessário dizer que Juan, coitado, foi para o olho da rua.

Mas não é só a economia que dá essas manifestações ignóbeis. Tem o prêmio IgNobel da Paz.

Em 2002, três pesquisadores japoneses inventaram uma máquina de tradução da linguagem humana para linguagem canina e vice-versa. Tudo isso com o nobre intuito de melhorar a harmonia entre humanos e cães: evitando que gente fosse mordida por cães raivosos, assim como cães fossem mordidos por humanos raivosos…

Em 2007, o IgNobel da Paz foi para o Laboratório da Força Aérea dos EUA, em Ohio, que desenvolveu a “bomba gay”. Trata-se de um gás que quando expelido e aspirado pelos soldados do exército inimigo, esses soldados começariam a se sentirem atraídos sexualmente entre si, fazendo amor e não guerra…

Esses são só alguns dos exemplos da longa lista de IgNobeis. Para ver a lista completa, clique no seguinte link: http://improbable.com/ig/winners/.  O pessoal da Impobable Research mantém um hilário blog sobre o IgNobel: http://improbable.com/category/ig-nobel/.

O curioso –  ou triste – nessa estória toda é que  a maioria desses trabalhos foi financiada com dinheiro do respeitável público…

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“A Gente Somos Inútil”, na voz do Ultraje a Rigor, é um bom resumo para esta estória:

A lei seca faz mal para o bolso!

março 7, 2011

Neste país,  é oito ou oitocentos! Não existe meio termo. Exemplo disso é a medida provisória que instituiu a lei seca. Bebida zero para todos os motoristas.

É evidente que, em termos econômicos, existe justificativa para se combater o consumo exagerado de bebida alcoólica. O consumo de álcool gera externalidades negativas (principalmente relacionadas aos acidentes de trânsito), portanto o consumo de álcool que seria desejável socialmente é menor do que consumo de álcool decidido privadamente pelos agentes. Mas tolerância zero não existe nem nos EUA onde dirigir embriagado tem consequências criminais graves.

Pesquisas médicas provaram que beber dois drinques (duas latas de cerveja ou dois copos de vinho ou duas doses de uísque) por dia faz bem para a saúde das pessoas: ajuda a dilatar as artérias do coração e combater os radicais livres que podem causar câncer (principalmente o vinho tinto), entre outros benefícios. Sem falar que beber, com moderação, é divertido e relaxante.

Mas o incrível é que a lei seca, além da saúde e da diversão, pode prejudicar o bolso das pessoas. Uma pesquisa econométrica muito bem fundamentada metodologicamente, realizada por Bethany Peters e Edward Stringham (ambos PhD em economia) e publicada na forma de artigo científico no Journal of Labour Research (o link do artigo é: http://www.reason.org/pb44.pdf), encontrou uma relação positiva entre rendimentos e consumo de bebida alcoólica. As pessoas que bebem regularmente ganham mais do que aquelas que são abstêmias! Houve a diferenciação entre bebedores e bebedoras. Quem é que se beneficia mais, bebendo, em termo relativos: o homem ou a mulher? Acertou quem disse as mulheres! As mulheres que gostam de beber ganham 16% a mais do que as mulheres abstêmias. Os homens que bebem ganham 11% a mais do que aqueles caras que não bebem.

Antes que alguém pense se tratar de uma regressão espúria, fruto de uma correlação fortuita, os autores constroem uma explicação teórica baseada na economia para justificar essa descoberta. Eles argumentam que beber reforça o capital social (networking) das pessoas, constituindo-se numa atividade produtiva. A teoria econômica estabelece que pessoas com mais capital social terão mais oportunidades econômicas (emprego e negócios), elevando os seus rendimentos. Isso porque as pessoas que bebem tem contato social com outras pessoas, fazem amizades, estabelecem vínculos de confiança, montando essa rede de conhecimentos e contatos. Essas pessoas conhecidas indicam outras pessoas de seu círculo para empregos e negócios. As empresas gostam de contratar pessoas indicadas por funcionários, pois estes não indicariam “abacaxis” para não queimar o filmes deles. Portanto, se indicam, é porque têm boas qualidades para o emprego. Com base nisso, o ministro Guido Mantega poderia começar uma propaganda na TV, esclarecendo o público. O ministério da Fazenda adverte: a lei seca faz mal para o bolso!

Portanto, já temos justificativa da medicina e da economia para se rever os critérios de tolerância da lei seca. Mas podemos adicionar mais uma, de caráter moral. Que moral algumas pessoas têm de impingir uma restrição para as outras pessoas e não para elas próprias. Se entendi bem, a lei fala que se beber, não se deve dirigir. Mas isso então deveria ser interpretado a ferro e fogo. Se beber, não se deve dirigir nada! Não se deve dirigir carro, caminhão, moto, ônibus. E também não se deve dirigir o país! Lei seca no palácio já! Se quiser beber que renuncie! Se beber, não governe. Se governar, não beba…

Espaço: a fronteira final

fevereiro 28, 2011

O tempo foi incorporado nos modelos econômicos faz muito tempo. Modelos dinâmicos de crescimento existem desde o começo do século passado. Métodos quantitativos para tratar o tempo foram desenvolvidos também há muito tempo. O desenvolvimento das séries temporais pelos estatísticos e a chamada econometria de séries de tempo não me deixam mentir. Evidentemente, a ampla aplicação dos métodos econométricos dependeu da elevação do poder de processamento dos computadores a partir dos anos oitenta, principalmente.

O que é interessante indagar é por que o tempo entrou mais rapidamente na economia do que o estudo da influência do espaço. Uma possível resposta para essa questão seria que o tempo está em toda a parte em nossas vidas desde muito tempo: temos relógio, carregamos calendário em nossas carteiras, a passagem do tempo nos deixa marcas e rugas etc. Agora quem é que carrega um mapa na carteira.

Mesmo assim talvez a explicação esteja mais na complexidade de se modelar o espaço em comparação com o tempo. Um aspecto dessa complexidade pode ser apreciada pela percepção do fato de que num fenômeno temporal presente é determinado pelo passado e o futuro é determinado pelas decisões tomadas no presente. A direção da causalidade é unidirecional (passado -> presente -> futuro). Mas num fenômeno espacial a direção da causalidade pode ser multidirecional: um ente influencia outros entes em seu entorno e é influenciado, por sua vez, por eles.

Em que pese a preocupação de economistas com o espaço desde o século XIX, somente no começo dos anos oitenta e noventa, modelos espaciais, mais sofisticados, são desenvolvidos, sobretudo pelo que ficou conhecido como a nova geografia econômica, que procurava entender por que as atividades econômicas são concentradas através do espaço. Quando se têm teorias e modelos, é preciso se ter métodos quantitativos adequados para testar suas hipóteses. A econometria espacial tem realmente o seu início no final dos anos setenta. Seu desenvolvimento começou a se acelerar apenas nos anos noventa com a avanço dos computadores. É uma fronteira ainda cheia de possibilidades de serem exploradas.

A verdade é que o espaço fascina. Minha linha de pesquisa é a econometria espacial. Às vezes, me pergunto por que fui mexer com isso. Será que um dos motivos pode ter sido porque gostava do seriado “Jornada nas Estrelas”. Talvez. O começo deste seriado, que marcou época, ainda é uma coisa especial. Apesar de ter sido feito há mais de quarenta anos, continua moderno e atual (abaixo pus a abertura inesquecível). Além de espacial e especial, é absolutamente intemporal…

Trilha Sonora do Post

Continuando no espaço, “Rocket Man” de Elton John:

Dez Princípios de Economia

fevereiro 20, 2011

Quando o economista Paul Samuelson decidiu que, devido à idade avançada, não escreveria mais uma versão do seu manual de introdução à economia, a sua editora quase surtou e decidiu contratar o professor Mankiw, da Universidade de Harvard, para preencher a lacuna deixada pelo Prêmio Nobel de Economia de 1970. Deram a Mankiw mais de 1 milhão de dólares, a título de adiantamento de direitos autorais, para ele pensar no livro. Com esse combustível no tanque, Mankiw escreveu um excelente manual de introdução à economia – o melhor de todos disponíveis no mercado. Todos os capítulos apresentam os conceitos e as idéias econômicas de forma atraente, com uma clareza solar e repleto de exemplos ilustrativos, extraídos da realidade. O primeiro capítulo do livro trata dos dez princípios de economia. Um economista comediante, com aguçadíssimo senso de humor, Yoram Bauman, resolveu revisitar os dez princípios do Mankiw, traduzindo-os no vídeo abaixo. Ele “desvenda” o que estaria por trás de cada um dos princípios. A propósito, Yoram tem uma página da web (www.standupeconomist.com). Vejam Yoram descontruindo os dez princípios. 

Economia do Vinho

fevereiro 19, 2011

Uma das coisas legais da economia é a amplitude de seus assuntos. Dado que a economia é a ciência que estuda os incentivos a que as pessoas e as organizações estão submetidas, a diversidade tópica é uma consequência natural.

Mas há economistas com muita imaginação.  E sede… Até se reuniram numa associação. Trata-se da associação americana dos economistas do vinho (http://www.wine-economics.org/). Apesar de ser americana, eles aceitam pessoas de todos os países. Basta ser economista e apreciar a bebida de Baco.

A coisa é séria. Tem uma seção de papers estudando sobre os vários aspectos da indústria do vinho. Dos economistas do Board conheço o trabalho de Victor Ginsburgh, um economista renomado na área de modelos computáveis de equilíbrio geral (citei um dos livros dele na minha tese de doutorado). Quem diria, hein?

Agora a grande questão é a seguinte: esse pessoal escreve os papers antes ou depois de beber vinho?

Experimentos naturais

fevereiro 12, 2011

Fazer experimentos em economia não é frequente. Os economistas comportamentais conseguem fazer, mas dentro de certos limites. Como fazer experimentos é raro em economia, existe o problema de se determinar a direção da causalidade, ou seja, o que causa o quê? É a expansão da moeda na economia que causa inflação ou é a existência de inflação que causa a expansão da moeda endogenamente.

Essa era uma discussão acalorada nos anos oitenta e começo dos noventa no Brasil a respeito da natureza do processo inflacionário antes do Plano Real. Para tirar essas dúvidas teóricas é que os economistas abençoam o surgimento dos chamados experimentos naturais.

Um experimento desse tipo foi a revolução dos preços na Europa no século XVI com a chegada de toneladas de prata da América Espanhola para a Espanha e de lá para a Europa via o comércio. Desse experimento surgiu a ideia econômica de que o que poderia estar por trás da inflação fosse uma expansão exagerada de moeda.

Outro experimento natural ajudou a tirar a teima entre qual sistema econômico era melhor em termos de eficiência: capitalismo ou socialismo. Com o fim da 2a Guerra Mundial e a divisão da Alemanha em duas, isso serviu de experimento natural: um mesmo povo, com a mesma cultura, os mesmos hábitos e história, separados.

Que tal comparar o desempenho econômico da Alemanha Ocidental e da Alemanha Oriental depois de quatro décadas? Quem estaria melhor no que importa que é prover melhores condições de vida para o seu povo? Isso pode ser comparada depois da queda do Muro de Berlim em 1989.

Como todos sabem, a Alemanha Ocidental teve um desempenho econômico muito melhor que a outra Alemanha. E olha que a Alemanha Oriental era considerada o país socialista mais desenvolvido.

Depois da queda do Muro, percebeu-se que a Alemanha Oriental era uma espécie de melhor aluna de uma classe de repetentes…

Divulgando o Lúgubre

fevereiro 1, 2011

Os economistas divulgam pouco a sua ciência em contraste com os físicos (sobretudo, os astrofísicos; basta lembrar-se de Carl Sagan e Isaac Asimov).

Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, tem uma explicação curiosa para isso. Segundo ele, a ciência econômica é tão lúgubre (baixo astral), mas tão lúgubre que os economistas têm receio de divulgá-la…

E aí os economistas decidiram terceirizar a divulgação para os jornalistas. Quem faz divulgação da economia no Brasil e no mundo são os jornalistas. Mesmo economistas que escrevem na imprensa não conseguem fazer o que Sagan e Asimov conseguiam: escrever artigos que permitiam o entendimento de assuntos tão complexos como buracos negros e a teoria do Big Bang por parte desde uma criança de oito anos até um idoso que tenha ultrapassado os oitenta.

Por que é importante divulgar a ciência? A resposta é simples: para conquistar a mente de jovens talentosos para seguirem a profissão no futuro e, principalmente, levantar uma grana preta para os cientistas. Com o trabalho de divulgação de Sagan e Asimov, todo mundo hoje considera fundamental para o destino da humanidade gastar vários bilhões de dólares para explorar o espaço. Até famílias tribais na África Sub-Sahariana, cujas últimas dez gerações estiveram passando dificuldades na ingestão de calorias diárias. Talvez, algum dia, a distribuição em massa de pílulas dos astronautas resolva a fome da Etiópia.

Trilha Sonora do Post

“No dark sarcasm in the classroom. Teachers leave them kids alone”:

 

Olá a todos!

janeiro 3, 2011

Relutei em manter um blog. Minhas atividades de ensino e pesquisa na universidade me ocupam bastante tempo. Mas acho que é tempo de estabelecer um canal de comunicação e um fórum de discussão com os meus estudantes, colegas, amigos e com todos para quem um blog de um economista possa interessar. O blog terá um foco na economia, mas não somente tratará disso. Pretendo postar sobre vários temas, entre eles política, esportes, entretenimento, comportamento etc. Mas tudo abordado com bom humor. Quem encara levemente a vida, vive bem e melhor! Finalmente, prometo atualizar o blog o mais frequentemente que puder. Ou, pelo menos, eu lhes prometo que atualizarei o blog  com a frequência que o meu saco permitir. Espero que gostem!

Trilha Sonora do Post

Fiquem com “I promise you I will”, uma das mais bonitas músicas de todos os tempos do pop rock, do Depeche Mode: