Governo costuma ser menos eficiente do que o mercado. A fonte da ineficiência reside no fato de que o empresário busca maximizar lucros, ao passo que gestor público procura maximizar o seu tempo no cargo. Por exemplo, a maior preocupação do presidente de uma estatal é permanecer na presidência a qualquer custo. Para isso, precisa agradar ao político que o nomeou.
Além disso, existe a questão do desperdício. Empresário não gosta de perder dinheiro, pois seu bolso fica menos cheio. Para o gestor público, tudo bem perder dinheiro, pois o dinheiro público é público, portanto, é de todos e de ninguém ao mesmo tempo.
Sem falar na corrupção. “Ah”, dirá o leitor implicante, “mas empresas privadas também se envolvem em corrupção, como já está provado pela operação lava-jato”. Sim, mas existe uma pequena diferença aí. Empresas privadas se envolvem em corrupção para ganhar dinheiro. Empresas públicas são forçadas a se envolver em corrupção para perder dinheiro. Vide o caso da Petrobras.
Como sempre em economia, provar e quantificar a ineficiência da mão visível do governo (ou outra coisa qualquer) é difícil, uma vez que é quase impossível se fazer experimentos controlados. Ainda no embalo dos grandes eventos esportivos realizados recentemente no país, seria como fazer o seguinte: comparar o custo do estádio do Maracanã construído pelo governo com o custo do Maracanã, caso ele fosse erguido pela iniciativa privada. Evidentemente esse experimento é ideal e não pode ser feito, porque o Maracanã já fora construído pelo setor público.
Mas podemos usar um experimento natural para tentar construir um contrafactual (mas não um estádio). Na cidade de São Paulo, foram construídos dois estádios que, senão idênticos, são muito parecidos. E um foi construído pela iniciativa privada e o outro foi feito seguindo a lógica do setor público.
Estou falando do Allianz Parque, do Palmeiras, e da Arena Itaquera, do Corinthians. Esses dois estádios são muito parecidos. Possuem quase a mesma capacidade (47.605 do Itaquerão contra 43.713 do Allianz Parque). Foram erguidos na mesma cidade quase ao mesmo tempo (período de 2011 a 2014 para o Itaquerão contra 2010 a 2014 para o Allianz Parque).
Com base nisso, seria razoável supor que os dois estádios tivessem o custo de construção parecido. Mas não é isso que verificamos na realidade. O Allianz Parque (o nosso contrafactual), construído pela empresa W Torre, custou R$ 630 milhões, em valores de 2014. A Arena Itaquera, construída pela Odebrecht com financiamento predominantemente público (BNDES, incentivos da Prefeitura de São Paulo, Banco do Brasil etc) custou R$ 1,150 bilhão, também em valores de 2014. Quase o dobro!
Essa diferença pode dar uma ideia, mesmo que precária, da ineficiência e do desperdício (sem falar em outra coisa) de algo feito pela mão visível do governo vis-á-vis alguma coisa elaborada pela mão invisível do mercado.
Evidentemente que esse simples exercício para medir a ineficiência da mão visível do governo não envolve um experimento ideal. Os dois estádios não são idênticos, mas apenas parecidos. Por exemplo, o Allianz Parque é considerado uma das mais modernas e belas arenas do mundo, como pode ser visto nas imagens abaixo:
Já o Itaquerão…
Acho que o arquiteto que fez o projeto desta arena era corbusiano, ou seja, um seguidor de Le Corbusier, lendário arquiteto franco-suíço.
Posso até imaginar a situação. Chegou o momento de elaborar o projeto da Arena. O arquiteto que estava sem nenhuma ideia pensou assim: “Oh meu Deus! Oh Céus! Oh dor! Que projeto faço agora?” Passando os olhos pelo escritório, pousou-os na impressora em cima da mesa. “É isso!”, exclamou o nosso arquiteto, pouco inspirado.
Trilha Sonora do Post
“Viva la vida” by Coldplay live at Allianz Parque in São Paulo: