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Doutores Heterodoxos

outubro 13, 2016

curandeiros

João Brasilino estava obeso. Pesava quase 150 quilos. Apesar de adorar comer e jogar videogame o tempo todo, queria mudar aquela situação. Queria afinar a silhueta e melhorar a saúde.

Procurou orientação médica para isso. O primeiro médico consultado foi direto: Brasilino precisava fazer rigorosa dieta balanceada, com verduras, legumes, pouco carboidrato, nenhuma fritura etc. O médico ainda recomendara muito exercício físico, coisa como uma hora por dia, pelo menos.

João Brasilino procurou uma segunda opinião médica. Mas agora procurou um médico heterodoxo.

O segundo médico achou um absurdo o receituário do primeiro. A abordagem do doutor heterodoxo era totalmente diferente. Ele defendia que a forma de se fazer dieta é comendo mais. Bem mais. Qual era a ideia? Comendo mais, o corpo acelera o metabolismo. Acelerando o metabolismo, queima-se gordura e perde-se peso. Simples assim.

Encantado e ao mesmo tempo atordoado com a consulta médica, digamos, inusitada, Brasilino queria saber mais detalhes. Podia continuar jantando um disco de pizza grande todos os dias? O médico heterodoxo, abrindo um largo sorriso, bateu no seu ombro e disse a ele que tinha que mudar: agora em diante, ele comeria um pizza tamanho gigante! A dieta prescrita incluía doces, massas, refrigerantes, frituras, muito carboidrato etc. A meta era ingerir pelo menos seis mil calorias diárias para acelerar o metabolismo. Tratava-se de uma dieta sem sacrifícios, sem medo de ser feliz.

“E quanto à necessidade de fazer exercícios físicos?”, indagou Brasilino. “Bobagem!”, respondeu o doutor heterodoxo. “Correr engorda. Vá a um parque qualquer e note que a maioria das pessoas que corre está fora de forma”.

O doutor heterodoxo disse para seguir a dieta e voltar a vê-lo em seis meses para ele poder avaliar o progresso do tratamento.

Desnecessário dizer que Brasilino seguiu a segunda opinião. Mergulhou com entusiasmo na dieta heterodoxa, esperando afinar a silhueta e melhorar a saúde, “sem sacrifícios e sem medo de ser feliz”. Infelizmente, Brasilino não voltou a consultar de novo o doutor heterodoxo. Morreu antes, pesando quase duzentos quilos, vítima de fulminante infarto.

A estorinha contada acima é uma alegoria que quero fazer com a situação atual da economia brasileira, à beira da votação da PEC do teto do gasto no Congresso Nacional.

Temos um grande déficit (“Estado gordo”). O doutor Henrique Meirelles propõe um ajuste fiscal (dieta) para pôr ordem nas contas públicas (“afinar a silhueta”). Para isso precisamos cortar gastos, privatizar e talvez ainda aumentar alguns impostos mais na frente (“comer verduras, legumes etc”). A ideia é que o ajuste fiscal é uma precondição para voltar a crescer economicamente lá na frente (“melhorar a saúde”). Mas precisa estar acompanhada da aprovação das reformas previdenciária, trabalhista e tributária (“fazer exercícios físicos”) para aumentarmos a produtividade.

Mas temos alguns doutores heterodoxos com um receituário distinto. Segundo eles, para se conseguir fazer o ajuste fiscal (dieta), é preciso fazer mais gastos do governo (“comer mais”), promovendo o crescimento (“acelerar o metabolismo”). Com maior crescimento, aumentará a receita de impostos e, com isso, atingir-se-á (bom dia, Michel!) o ajuste fiscal.

E as reformas (“exercícios físicos”)? “Bobagem!” Países que fazem reformas (México, Grécia, Colômbia) são mais pobres do que países ricos (EUA, França, Alemanha, Japão etc) que não fazem reformas. Logo, fazer reformas empobrece os países.

Simples assim. Sem sacrifícios. Sem medo de ser feliz.

Quem topa seguir esses curandeiros?

Quem está disposto a continuar se submetendo a este tipo de pajelança?

Trilha Sonora do Post

Two Princes dos Spin Doctors: