Tobler: a web app for spatial econometrics

outubro 13, 2021

Tobler is a free web app that offers an intuitive step-by-step process for estimation of spatial econometric models, including a basic spatial visualization, creating of spatial weighting matrix and spatial correlation tests. Currently, it is possible to estimate several cross-section and panel models, with different estimators. Estimates of impacts are provided, when applicable.

This app was entirely created with R using the Shiny library. Spatial data is handled by the RGDAL, cleangeo and leaflet libraries. Spatial dependence tests and spatial models are provided by the spdep, spatialreg, sphet and splm library.

The name is a tribute to the geographer Waldo R. Tobler and his First Law of Geography: “Everything is related to everything else, but near things are more related than distant things.”

Tobler is being developed by Raphael Saldanha, PhD and researcher from Oswaldo Cruz Foundation (FioCruz) and Eduardo Almeida, professor of spatial econometrics at the Federal University of Juiz de Fora (UFJF).

Tobler is available for free here. You can acess it using computers (desktop or laptop), tablets or smartphones.

This is still a prototype. All results must be checked and validated by the users.

O Econometrista que Mudou o Jogo

outubro 12, 2020
O galã que levou todo o crédito da ideia e o econometrista que teve a ideia

Um filme legal sobre economia para assistir é “O homem que mudou o jogo” (Moneyball, em inglês). Trata da estória de Billy Beane, um general manager de um time de baseball, interpretado por Brad Pitt, que revoluciona o jogo.

Na verdade, quem revoluciona é um economista, um cara meio gordinho e sem graça, interpretado pelo ator Jonah Hill,  o braço direito do general manager. Mas o mérito todo foi para o galã Brad. Por que será?

O que o economista fez de extraordinário para mudar o jogo?

Ele simplesmente usou a econometria para mensurar o desempenho dos jogadores, fazendo com o time de baseball comprasse desempenho (número médio de rebatidas por jogo, número de home runs etc) e não jogadores em si.

Assim, ele podia contratar jogadores desvalorizados no mercado por algum motivo, mas que desempenhavam tão bem quanto jogadores valorizados e muito caros (os “medalhões”). Isso permitiu que um time de orçamento relativamente baixo, como o Oakland Athletics, pudesse competir em pé de igualdade com times que tinham muitas vezes mais dinheiro para gastar com jogadores.

Em tempo: alguém mais aí percebeu que o economista usava o Stata para fazer a análise econométrica?

Deem uma olhada no trailer abaixo. O filme está em cartaz na HBO Max.

Trilha Sonora do Post

“The Show”, cantada pela filha de Billy Beane no filme:

Flamengo X Globo: Quem é o Dono da Bola?

julho 4, 2020

white soccer ball

Photo by Aphiwat chuangchoem on Pexels.com

A Medida Provisória 984 – a MP do Flamengo, como ficou conhecida – está provocando uma cadeia de eventos que pode mudar tanto a forma de negociação dos direitos de transmissão do futebol quanto o seu próprio calendário de competições, com o eventual esvaziamento dos estaduais.

Pela redação da MP, que precisa ainda ser apreciada pelo Congresso no prazo máximo de 120 dias, os direitos de transmissão da partida agora são do time mandante, que pode decidir sozinho para qual mídia ele quer comercializar tais direitos, a saber, tevês abertas, fechadas, plataformas de streaming, Facebook etc. Antes da MP a lei dizia que os direitos de transmissão do jogo eram dos dois times envolvidos na partida.

A Globo e o Flamengo estão em lados opostos nesta questão. A ironia é que a Globo ajudou a criar essa situação que a prejudica agora a partir de uma decisão dela própria no passado. Para entender toda a estória, é preciso recuar na comercialização dos direitos de transmissão do Brasileirão em 2011.

A venda dos direitos de transmissão pela TV do campeonato brasileiro para o triênio 2012-2014 tinha virado uma novela. Já fazia bastante tempo que a Globo era a detentora exclusiva desses direitos. Naquela época, o chamado Clube dos 13 tinha a autorização dos clubes do campeonato da série A para comercializar os direitos.

A Globo fez uma oferta pelos direitos de TV aberta, TV paga e pay-per-view para o triênio 2012-2014. Desde 1995, a Record tinha começado a mostrar interesse em comprar esses direitos de transmissão. Nunca ficou muito clara a regra de negociação. Até 2011, o Clube dos Treze costumava dar um desconto de 10% sobre a oferta da Record para a Globo, alegando que esta emissora já era sua cliente. A Globo pagara em torno de 500 milhões por ano pelos direitos de transmissão do triênio 2009-2011.

Já existia um conjunto de coisas difíceis de ser explicado aí. Em primeiro lugar, é uma prática anticompetitiva dar esse desconto. Em segundo lugar, por que a Record não recorreu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) reclamando ter sido lesada no campo competitivo? Em terceiro lugar, por que o próprio Cade não interveio numa área que desperta tanto interesse para milhões de torcedores de todos os times?

Na negociação referente ao triênio 2012-2014, o Cade finalmente se mexera um pouco e acertara com o Clube dos 13 um mecanismo mais competitivo, ou seja, uma licitação dos direitos para as emissoras interessadas, ao melhor estilo “the winner takes all”.

A ideia era estimular a disputa pelo mercado, que, sem dúvida, é uma fonte de competição, como bem observou o economista Harold Demsetz no seu artigo clássico de 1968, intitulado “Why regulate utilities?“. E funciona bem no caso de monopólios naturais, em que considerações tecnológicas fazem com que apenas uma empresa seja eficiente em termos de custo de produção. Mas esse tipo de competição não faz sentido no mercado de transmissão de direitos de TV, uma vez que não tem características de monopólio natural.

A licitação foi feita e a RedeTV apresentou a proposta vencedora naquele momento: 516 milhões reais por ano pelos direitos para o triênio 2012-14. A Record acabou não apresentando proposta. A Globo já tinha anunciado que não concordava com esse tipo de leilão, tanto que não participou da licitação e partiu para a negociação direta com os clubes, dando um chapéu no Clube dos 13 e no Cade.

Isso talvez seja a coisa mais estranha dessa estória. Com os direitos legais de transmissão sendo dos dois times envolvidos na partida, não faz sentido um clube negociar sozinho os direitos de seus jogos se não combinar com os outros clubes. A negociação precisa ser conjunta. Isso porque existe uma espécie de externalidade de rede nessa brincadeira.

Para entender externalidades de rede, vale a pena fazer aqui uma digressão. Pegue a descoberta do telefone por Graham Bell. Alguém poderia dizer que o telefone foi inventado quando Bell fez o primeiro aparelho de telefone. Alguém um pouco mais arguto vai dizer que o telefone só foi realmente inventado quando Bell construiu o segundo aparelho e deu para outra pessoa a fim de que eles pudessem bater um papinho à distância… Só aí que podemos dizer que a telefonia começou a existir de fato.

Existem certos bens ou serviços que aumentam a sua utilidade – e seu valor – se outras pessoas também têm e usam esses bens e serviços, tais como o telefone, o Instagram, Whatsapp, Telegram, Zoom etc.

Talvez seja essa a explicação porque a Microsoft seja dominante no segmento de sistemas operacionais, mesmo tendo um produto inferior ao da Apple. Existe muita gente usando os computadores PC com o seu sistema operacional Windows. Fica mais fácil tirar uma dúvida com o colega do lado, que provavelmente também usa o mesmo sistema operacional. A vantagem de usar esse sistema é que muita gente usa, gerando externalidade positiva de rede.

Voltando para a vaca fria, o que adianta o Flamengo negociar os seus direitos com a Globo por uma grande soma de dinheiro se os outros dezenove clubes não assinarem? A Globo não poderá transmitir nenhuma partida do campeonato. A utilidade do acordo com o Flamengo depende que os outros também entrem em acordo com a mesma emissora. Por causa disso, os direitos de transmissão são comumente comercializados por uma liga que garante que todos os clubes do campeonato aceitarão ter os seus direitos negociados conjuntamente.

Com a mudança na lei proposta pela MP 984, a situação muda um pouco de figura. Cada time da série A – e não apenas o Flamengo – garante a negociação de seus dezenove jogos do Brasileirão em casa com quem quiser.

Na negociação direta com os clubes na regra dos direitos para o mandante do jogo, os clubes de maiores torcidas, como Flamengo e Corinthians, tendem a fechar acordos mais vantajosos para eles. Times médios e pequenos têm menos poder de barganha. Isso pode causar o aumento da desigualdade econômico-financeira entre os times, promovendo a tão temida espanholização do futebol brasileiro.

Como resolver esse problema? Mesmo que imperfeita, uma forma para equilibrar o poder de barganha é a composição de blocos de times pequenos e médios para negociar conjuntamente os direitos deles. No limite, se houver, de um lado, Flamengo e Corinthians e, do outro, um grupo com os 18 times restantes da série A, o poder de barganha daqueles dois times grandes diminui consideravelmente. Por exemplo, a tevê que fechar só com Flamengo e Corinthians garante a transmissão de apenas 38 jogos do Brasileirão. O Bloco dos 18 tem a esmagadora maioria dos jogos (342 no total) para negociar com quem quiser.

Mas essa não é a solução ideal para atingir a maximização da receita obtida com a negociação dos direitos para os clubes. Para isso, é preciso se espelhar na forma como são negociados os direitos de transmissão de jogos dos esporte profissionais americanos.

A liga de futebol americano (NFL) vende os jogos do seu campeonato em pacotes para mais de uma emissora. Nos EUA, aos domingos, no período da tarde, existem dois canais (Fox e CBS) que transmitem dois jogos cada um. Depois à noite, tem o Sunday Night Football, um jogo exclusivo só passado na rede NBC. E na segunda-feira, tem o Monday Night Football, transmitido exclusivamente pela ESPN. Ainda há jogos na quinta-feira à noite que a Fox passa.

Mas não precisamos nem mudar de esporte para copiar esse modelo, podendo ficar no soccer mesmo. A Bundesliga, a liga alemã de futebol, negocia também os jogos de seus campeonatos em pacotes, provavelmente inspirada no exemplo dos esportes americanos.

Poderia ter algo parecido nestes tristes trópicos com o Brasileirão. Em primeiro lugar, é preciso que os clubes se unam e formem uma liga para negociar conjuntamente os direitos de transmissão com as diversas plataformas de mídia.

Os jogos seriam empacotados. Cada pacote de jogo seria leiloado para quem tivesse mais interesse. A licitação de cada pacote independentemente é condição fundamental para que se atinja a eficiência defendida por Demsetz e a consequente maximização da receita dos direitos.

Como um exemplo desse modelo de negociação, o jogo das quarta-feiras das 21h30 seria licitado em um pacote, enquanto o jogo do domingo às 16h constituiria outro pacote a ser comercializado em outra licitação diferente. Como muito provavelmente a Globo gostaria de ter esses dois pacotes, ela deveria dar os lances mais altos nessas duas licitações e levar esses jogos.

Para estimular a competição, é preciso estipular que nenhuma plataforma de mídia poderá adquirir mais do que dois pacotes. No limite, cada jogo da rodada se constitui num pacote a ser customizado, conforme o interesse das plataformas.

Por exemplo, poderia haver outro jogo da série A na quarta-feira às 19h30. Poderia ainda haver o jogo da quinta à noite, o jogo do sábado à tarde, o do domingo às 11h, o do domingo às 18h, o da segunda à noite etc. É possível ter dez pacotes diferentes sendo leiloados em licitações independentes para várias plataformas de mídia (tevês aberta e fechadas, Facebook, Amazon, DAZN, outros streamings etc) a fim de maximizar a receita dos direitos.

Evidentemente que isso não interessa à Rede Globo. Vai ter emissora que comprará o pacote do jogo das quartas-feiras às 20h30 para competir com o Jornal Nacional e a novela. Também reduziria tremendamente o apelo do pay-per-view e sua receita, pois vai aumentar muito a oferta de jogos gratuitos aos torcedores pela TV e plataformas abertas.

Mas o interesse do público não deve se curvar ao interesse de uma emissora. Esse sistema é mais competitivo e traz melhores resultados para os times e seus torcedores. É a verdadeira mão invisível em ação. Ou melhor dizendo: é o “pé invisível” de Adam Smith fazendo um golaço! Com eco: aço-aço-aço!

Trilha Sonora do Post

“Pumped Up Kicks” do Foster The People:

O “Monopólio” do UFC no MMA e a Lei Muhammad Ali

agosto 20, 2019

Ali e McGregor

O Ultimate Fighting Championship (UFC) é praticamente sinônimo das artes marciais mistas (mixed martial arts, MMA, na sigla em inglês). Trata-se do maior evento desse esporte relativamente recente, surgido em 1993.

Muita gente identifica uma espécie de monopólio do UFC no MMA. Rigorosamente, o UFC não é monopólio, pois existem outras organizações de MMA no mundo, como o americano Bellator, o asiático ONE, o russo ACA, o árabe Brave, para ficar apenas com as mais relevantes. Porém, é notória a diferença em termos de importância e tamanho entre esses outros eventos e o UFC, ostentando este a maior participação de mercado de MMA no mundo.

E por que o UFC ficou com o tamanho e o market share que possui atualmente? Após a aquisição do UFC em 2000 pelos irmãos Fertitta, tendo Dana White como CEO, a nova direção promoveu uma concentração do esporte com a compra dos seus principais concorrentes, como Pride (em 2007), WEC (em 2010) e Strikeforce (em 2011). Ao adquirir esses eventos, o UFC assumia automaticamente os contratos com os lutadores dessas organizações.

Os donos do UFC tentavam vender a ideia de que esta concentração de mercado seria benéfica, pois se todos os principais lutadores do mundo estivessem sob o contrato de uma mesma empresa promotora, o UFC poderia fazer as lutas que os fãs quisessem. Isso só funciona porque existe uma barreira à saída no sentido de que os lutadores do UFC somente podem lutar dentro desta organização, que é dona dos cinturões.

Assim, a verdadeira fonte do poder de mercado do UFC é o fato de ele ser promotor e sancionador dos cinturões ao mesmo tempo, conseguindo definir quem luta contra quem pelo título.

No boxe, essas funções são separadas. Por exemplo, Bob Arum, dono da Top Rank, é o maior promotor do boxe atualmente, mas ele não tem o poder de sancionar nenhum título. Para isso, existem entidades sancionadoras (sanctioning bodies) de cinturões e elaboradoras de rankings independentes, sendo que as principais são o Conselho Mundial de Boxe (CMB), a Associação Mundial de Boxe (AMB), a Organização Mundial de Boxe (OMB) e a Federação Internacional de Boxe (FIB).

Essa separação talvez seja a principal consequência prática da Muhammad Ali Boxing Reform Act, uma lei antitruste federal dos EUA, sancionada em 2000 com a finalidade de proteger os interesses dos lutadores e o seu bem-estar, bem como estimular a concorrência no âmbito das promoções de luta, combatendo a exploração dos boxeadores.

No boxe, os promotores concorrem para poder promover as principais lutas. A consequência são bolsas milionárias para os principais boxeadores. Por exemplo, na chamada Luta do Século, em 2015, o boxeador americano Floyd Mayweather ganhou aproximadamente 180 milhões de dólares, enquanto o seu adversário, o filipino Manny Pacquiao recebeu algo como 96 milhões de dólares.

No boxe, aproximadamente 80% das receitas de uma luta são distribuídos aos lutadores. É a velha “mão invisível” do mercado de que nos falava Adam Smith, o pai do liberalismo econômico. Neste contexto pugilístico, poderíamos dizer que seria uma espécie de “luva invisível” do mercado…

Só para se ter uma ideia da diferença entre os dois principais esportes de lutas, apenas 20% de toda a receita bruta do UFC vão para os lutadores. De setembro de 2011 a agosto 2017 o UFC pagou 626 milhões de dólares na forma de bolsas para os seus lutadores. Se o UFC tivesse que pagar 50% da receita bruta, os lutadores receberiam 1,565 bilhão de dólares no período mencionado.

A extensão da Lei Ali para o MMA promoveria uma verdadeira reviravolta neste esporte. Sob a égide da Lei Ali, por exemplo, um lutador promovido pelo UFC disputaria com um lutador promovido pelo Bellator um cinturão chancelado por uma entidade sancionadora (digamos, uma eventual Associação Mundial de MMA), que também organizaria um ranking independente dos promotores. Note que agora o dono do cinturão seria a entidade sancionadora e não mais o UFC nem o Bellator, tornando essas organizações meras promotoras, como ocorre no boxe, tirando delas grande parte de seu poder de mercado.

Para perceber melhor a revolução que seria provocada pela extensão da Lei Ali ao MMA, vamos supor que o campeão de uma divisão de peso seja um lutador promovido pelo UFC e, no ranking da Associação Mundial de MMA, o primeiro colocado seja um lutador promovido pelo Bellator. Como no boxe, o campeão detentor do cinturão seria obrigado a defendê-lo contra o primeiro do ranking.

Suponha agora que o UFC e o Bellator não conseguissem entrar em acordo para a promoção conjunta desta luta. O que aconteceria neste caso? A entidade dona do cinturão abriria um leilão para todos os promotores de MMA (ONE, Brave, ACA etc) pudessem participar para darem lances para organizar a luta. Se o UFC recusasse que o seu lutador fizesse a defesa do cinturão sem a sua promoção direta, ele deixaria de ser o campeão da Associação Mundial de MMA. Com a lei Ali, cabe relembrar que o dono do cinturão é a entidade sancionadora e não a organização promotora (UFC).

Mas nem tudo são flores com a Lei Ali, existindo alguns problemas. Primeiro, as lutas mais esperadas pelo público costumam demorar muito para acontecer, uma vez que depende de acerto dos promotores de cada lutador. E esta negociação costuma ser muito difícil, envolvendo uma série de detalhes e condições. Por exemplo, a luta deste século entre Mayweather e Pacquiao demorou cinco anos para acontecer.

Segundo, apesar das grandes estrelas do boxe ganharem um container de dinheiro para subir no ringue, os outros lutadores menos estrelados continuam não ganhando muito, fazendo com a desigualdade entre as bolsas dos boxeadores aumente consideravelmente. Apesar dessas ressalvas, ninguém discorda que a Lei Ali foi um avanço para o boxe.

Por fim, vale celebrar a enorme importância do grande Muhammad Ali, the greatest of all time, tanto dentro dos ringues quanto fora deles. Foi por iniciativa e empenho dele e de um senador americano que essa fundamental lei para regular o mundo das lutas de boxe e beneficiar os boxeadores conseguiu passar no congresso americano.

Agora só falta a Lei Ali pisar no octógono mais famoso do mundo.

Trilha Sonora do Post

“We will rock you” do Queen:

E Se a Petrobras fosse Privatizada?

maio 29, 2018

red and white water tank under blue sky

Photo by Jan-Rune Smenes Reite on Pexels.com

Há uma interminável discussão se a Petrobras – e, de modo geral, qualquer estatal – deveria ser privatizada ou não. Existem argumentos para as duas posições neste debate. Independente disso, um econometrista aplicado gostaria de fazer um experimento para tirar empiricamente essa teima. Ou seja, deixar a Petrobras como empresa estatal, com tudo o que isso implica (intervencionismo, aparelhamento político, controle de preços dos combustíveis, corrupção etc), passar um tempo nessa condição e ver os resultados disso em termos de receitas, endividamento, lucratividade e valor de mercado. Depois, com essa mesma Petrobras, mas agora na condição de empresa privada, passar o mesmo tempo e analisar esses mesmos indicadores de desempenho, comparando com aqueles outros resultados da Petrobras estatal para concluir qual condição é mais eficiente.

Evidentemente, a Petrobras privatizada não é um resultado observável. O que se tem é a Petrobras estatal e só. De qualquer modo, o econometrista aplicado procuraria um contrafactual, isto é, uma situação real que assemelharia à situação que não se tem em mãos (no caso, a Petrobras privatizada). Interessantemente, o Brasil presenciou um experimento natural que gerou uma espécie de contrafactual para a “Petrobras privatizada”.

Depois do desastre econômico produzido pela ingerência dos governos petistas na direção da Petrobras, que levou a empresa a uma situação quase falimentar, com a chegada do governo interino, depois do impeachment, nomeou-se um novo presidente para a Petrobras. Pedro Parente, este novo presidente, deixou claro que só aceitaria o cargo se tivesse total liberdade e carta branca para todas as decisões técnicas e administrativas para tirar a empresa do buraco.

Aí está o nosso contrafactual! A partir de junho de 2016, a mesma Petrobras, com as mesmas reservas de petróleo, com o mesmo quadro de funcionários, com a mesma marca, com os mesmos produtos, mas agora com uma gestão parecida com a de uma empresa privada.

Que conclusão tiramos desse experimento natural? Infelizmente, tanto a Petrobras estatal quanto a Petrobras “privatizada” desagradam a sociedade.

É claro que a Petrobras “privatizada” conseguiu melhores indicadores de desempenho: aumentou a receita, reduziu o endividamento e aumentou o lucro. Mas tudo isso foi graças à utilização de seu gigantesco poder de mercado de quase monopolista, que a fez decidir até formar preço dos combustíveis diariamente.

No mercado de combustíveis, a variação diária de preços (para cima ou para baixo) faz com esse mercado não encontre o seu equilíbrio. O lado da demanda não tem tempo para processar informações da mudança de preço de ontem, pois hoje já existe outra variação de preço, impedindo que ela encontre a oferta. A formação diária de preços dos combustíveis introduz uma grande volatilidade de preços no mercado, dificultando a tomada de decisão dos compradores e dos vendedores na bomba dos postos. O que se obteve foi uma grande dispersão de preços dos combustíveis, refletindo um mercado que perdeu referência.

Qual é a empresa que decide mexer no preço de seu produto todos os dias? Praticamente nenhuma, a não ser que a empresa seja um monopólio desregulamentado. E esse é o problema com a Petrobras “privatizada”. Trata-se de um monopólio privado com enorme poder de mercado e sem regulação, que vai tentar buscar lucros monopolistas, com preço alto e menos produção de petróleo e combustíveis. Para a sociedade, há pouco ganho na transformação do monopólio estatal em monopólio privado.

O problema está na histórica falta de competição no mercado de petróleo no Brasil desde a aprovação da famigerada lei 2004, em 1953, que instituiu o monopólio da Petrobras. Não basta privatizar a Petrobras, é necessário introduzir competição nas várias fases do mercado de petróleo.

Na fase de exploração, é preciso continuar com os leilões de concessão dos poços de petróleo, fazendo que haja concorrência entre as petroleiras do mundo todo pelo direito de explorar no pré-sal.

Na etapa do refino, deve-se vender a maioria das refinarias da Petrobras para outras empresas interessadas.

Na fase da distribuição dos combustíveis, permitir a importação livre de combustíveis refinados em outras partes do mundo a fim de introduzir contestabilidade nos preços que as refinarias pratiquem no mercado interno.

Na etapa da comercialização, impedir a atuação da Petrobras privatizada neste segmento, dividindo a BR em pelo menos duas outras distribuidoras, que não seja o grupo Ultra (dono da Ipiranga) ou o grupo Raízen (dono da Shell), para que haja competição com esses dois outros grupos e isso se reflita na bomba do posto.

A palavra de ordem aqui é competição. Tudo bem que se privatize a Petrobras, mas tem que submetê-la à competição. Senão, é trocar seis por meia dúzia.

Trilha Sonora do Post

A canção “Born to be wild” do filme “Easy Rider”:

Existe Brasil em Outros Planetas?

agosto 3, 2017

clear drinking glass with ice cubes and ice cubes

Photo by cottonbro on Pexels.com

Lendo artigo do “Valor Econômico”, fiquei sabendo da existência de uma lei (13.419/17) que regulamenta a gorjeta, aprovada neste ano pelo Congresso, aplicável a bares, restaurantes, hotéis, motéis (?!), cabeleireiros, manicures, lojas de reparos de roupas, engraxatarias (?!), postos de combustíveis etc. Cabe registrar que a concessão da gorjeta continua opcional e não pode ser imposta pelo funcionário nem pelo estabelecimento.

Isso mesmo, caro leitor, regulamentação da gorjeta, com o devido recolhimento de impostos, taxas e contribuições previdenciárias! Botaram o governo no meio da concessão facultativa de uma premiação pelo bom serviço na avaliação do cliente.

A questão tributária surge quando a gorjeta (normalmente, de 10%) é incluída na nota fiscal emitida pelo estabelecimento. Além disso, a gorjeta virou alvo de contrato coletivo de trabalho de certas categorias para incluir um acumulado médio de gorjetas no holerite do funcionário, ao lado das rubricas de salário, férias, 13º. Nesse caso, há a necessidade de se recolher impostos, taxas e contribuições previdenciárias sobre esse extra contido no contracheque.

A lei permite que os empregadores recolham 33% da gorjeta para cobrir esses encargos. Mas o problema é que essa mordida não é suficiente para cobrir totalmente os custos tributários e previdenciários da gorjeta: o custo efetivo para o empregador é de aproximadamente 157%, segundo informado no artigo do Valor.

Como entrou o governo na parada, vamos contar os mortos e feridos por mais essa intervenção. Vamos supor que o valor da gorjeta que você deseja dar é de R$10. Quem ganha e quem perde?

Perde o funcionário que recebe somente R$6,67 dos dez reais.

Perde o empregador que tem um custo de R$15,70 para cada dez reais de gorjeta, podendo ressarcir apenas R$3,33, ficando com um prejuízo de R$12,37. Talvez ele tente recuperar a diferença, majorando os seus preços.

Perde o cliente que queria premiar um bom serviço prestado pelo funcionário com dez reais, mas vê que somente dois terços disso vão realmente para o bolso do sujeito. Sem falar que ele pode pagar preços mais altos, aumentados pelo custo tributário da gorjeta.

Ganha o governo, que não fez nada para ajudar na realização dessa transação. Sempre o governo querendo colher frutos nunca plantados por ele.

Por que pôr governo nessa estória, se quase todos são prejudicados?

Por que gorjeta é alvo de contrato coletivo de trabalho? Qual é a vantagem para o empregado?

Por que os empregadores cobram a gorjeta na nota fiscal e pagam o acumulado de gorjetas no holerite do funcionário, se isso gera perdas para eles?

Fiquei estarrecido e desanimado com a leitura dessa notícia. Não faz sentido econômico a regulamentação da gorjeta. Vai gostar de governo lá longe! Que sina a nossa!

Não seria melhor fazer o que se faz em praticamente todos os países. Vem na mesa do restaurante a conta com valor do que foi consumido sem o cálculo de 10% da gorjeta. Aí você paga o valor da conta e deixa a gorjeta que você quer dar informalmente na mesa para ser recolhida pela mão visível do garçom. Assim, funciona melhor a mão invisível do mercado.

Não, no Brasil. Aqui a mão visível, peluda, suja, cheia de bactérias e micróbios do governo chega na mesa e pega para ele boa parte da gorjeta.

Por conta própria daqui por diante, vou começar a fazer o que é feito lá fora. Pedirei gentilmente para tirar a cobrança da gorjeta da conta e vou dar por debaixo dos panos (na verdade, por debaixo da toalha da mesa) o dinheiro da gorjeta diretamente para o garçom. Vou eliminar o governo dessa estória.

Mais uma vez: por que introduzir regulamentação governamental na concessão da gorjeta?! Onde está a falha de mercado para justificar a regulamentação? Há explicação racional para isso?

A única explicação – e não é racional, evidentemente – é “Brasil”. Tem coisa que só acontece aqui neste triste país dos Trópicos. As nossas jabuticabas amargas…

Outra explicação possível repousa numa charge de Veríssimo, publicada faz muito tempo atrás: dois caras contemplam um céu estrelado, até que um pergunta, pensativo, para o outro: “será que existe Brasil em outros planetas?”

Trilha Sonora do Post

“It is no good” do Depeche Mode. Felizmente, para a garçonete que aparece no vídeo, ela trabalha num diner nos EUA. O governo americano não garfa um terço dos seus tips.

Laboratório Brasil

julho 11, 2017

laboratório

Ao contrário da Biologia ou da Física, costuma-se dizer que, em Economia, é muito raro fazer experimentos controlados pois as “bactérias” ou os “átomos”, neste caso, são seres humanos.

Mas, durante muito tempo, fizeram com o povo brasileiro todo o tipo de experiência para se controlar a inflação no Brasil, desde o Plano Cruzado até finalmente o Plano Real, que conseguiu encerrar o processo de elevada inflação que começou na década de sessenta.

Com o Plano Cruzado, inaugurou-se uma espécie de “macumba econômica”, com todo tipo de feitiçaria: congelamentos, tabelamentos, tablitas (não queira saber o que isso era), fiscais do Sarney, etc. Uma loucura só!

Depois de muitas cabeçadas (Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Collor I, Plano Collor II), finalmente a racionalidade na formulação de política econômica voltou e o Plano Real foi lançado.

O grande problema da inflação brasileira, depois de 1965, era a correção monetária instituída na lei que impedia o recuo das taxas inflacionárias e impunha um componente autônomo (a chamada inércia inflacionária). Para vocês terem ideia, a inflação num prazo de quinze anos foi 20.759.903.275.651%! É isso aí: mais de 20 trilhões % de inflação!!!

Existe um documentário (“Laboratório Brasil”) na TV Câmara que conta a epopeia da tentativa de se estabilizar os preços na economia.

Os depoimentos são surpreendentes. Por exemplo, o economista Gustavo Franco revela que, numa reunião da equipe econômica com o governo Itamar e o seu ministério, ao debater com o ministro do trabalho Walter Barelli, que queria incluir um despropositado aumento salarial para os trabalhadores dentro do Plano Real, Fernando Henrique entregou o cargo de ministro da Fazenda três vezes, caso isso fosse incluído!

Trilha Sonora do Post

“Tente outra vez”! Era isso o que o governo fazia para tentar estabilizar a inflação. O Plano Cruzado não deu certo? Tente outra vez! Se o Plano Bresser não deu certo? Tente outra vez! Plano Collor não funcionou? Tente outra vez! Até acertar!

A Real Por Trás do Filme

junho 28, 2017

Real o filme

Está em cartaz o filme “Real – O Plano Por Trás da História”, que conta a historia do Plano Real, tendo como protagonista o economista Gustavo Franco.

Assisti e gostei. Afinal, não é sempre que se veem nas telas economistas no papel de heróis. Muito pelo contrário.

Evidentemente, existem alguns problemas com a produção.

O diretor que escalou o ator para representar o Pérsio Arida nunca deve ter visto uma foto dele. O Arida é franzino, enquanto o ator global que o interpretou (Guilherme Weber) é superalto, atlético, cabelos aloirados, mais parecendo um surfista.

O ator que faz o Serra é superfeio, mas de uma superfeiúra totalmente diferente da superfeiúra do Serra. Mas a voz do camarada é idêntica.

O roteiro é apenas correto, com personagens sem profundidade psicológica. Mas isso é problema que quase todo filme nacional enfrenta. Bem diferente do cinema argentino.

O papel do FHC no filme não corresponde com a realidade. Fernando Henrique foi importantíssimo para vender o Plano no Congresso. Sem a aprovação da MP do Real no Congresso, não haveria Plano.

O papel do Arida e de Lara Resende é colocado em segundo plano. Não se deve esquecer que o Plano Real foi uma versão melhorada do Plano Larida, proposto pelos dois uns dez anos antes num artigo científico.

O Gustavo Franco foi realmente muito importante. O Plano Larida previa a circulação de duas moedas com todas as suas funções (meio de troca, reserva de valor e unidade de conta): a moeda velha inflacionada e a moeda indexada (ORTN).

O receio dos economistas era que a  moeda podre contaminasse a moeda indexada, inflacionando-a.

Franco resolveu esse nó górdio do Real, inspirado na história do Rentenmark durante a hiperinflação alemã dos anos vinte do século passado. A moeda indexada (rebatizada de URV em 1994) não circularia, tendo apenas a função de unidade de conta. Essa ideia aumentou as chances de o Plano Real dar certo.

Enfim, vale a pena assistir ao filme. Na sessão que fui havia umas quinze pessoas na sala. A maioria economistas. No final, as pessoas provavelmente não economistas chegaram a aplaudir o final do filme.

Abaixo, o trailer do filme:

Reforma-se ou Deforma-se

abril 22, 2017

elderly gentleman making silence gesture in studio

Photo by Andrea Piacquadio on Pexels.com

O governo Temer esforça-se para aprovar a Reforma da Previdência no Congresso. Como esperado, existe uma guerra de versões sobre a necessidade da Reforma.

Para qualquer economista intelectualmente honesto, é evidente a necessidade de se fazer a Reforma da Previdência, não apenas para ajustar as contas públicas, um horizonte de curto a médio prazo, mas, principalmente, para elevar o nível de produtividade da economia brasileira, retirando o país da armadilha da renda média. A Reforma é um importante elemento – não único, é claro – para a retomada sustentável do crescimento econômico de longo prazo.

Não vamos entrar aqui em detalhes do formato da Reforma proposta pelo governo. Sim, não é a melhor proposta, como apontado pelo especialista Marcelo Medeiros do IPEA . Mas é o que temos para hoje. Sem esquecer que essa é a primeira Reforma da Previdência do resto das nossas vidas. Outras virão pela frente.

Se a relevância da Reforma é consensual entre os economistas que honram o seu diploma, não é ainda consensual entre a população e, consequentemente, entre o Congresso Nacional, onde será votada a PEC. Cabe, então, aos formuladores de política econômica formar o consenso na população da necessidade premente da Reforma.

Aí entra a importância da narrativa. Numa dança de números, o debate gira principalmente a respeito do “déficit da previdência”. Governo diz que existe o déficit e ele é crescente, ao passo que a oposição alega, que se considerar todas as receitas legais, não existe déficit.

O governo começou mal no debate das ideias, focando no “déficit”, achando que isso causaria comoção na sociedade. Realmente, conforme se considerar as rubricas nas receitas (exclui DRU ou não, Previdência inclui os gastos com o SUS ou não, etc), pode não haver déficit.

O ponto da argumentação não pode ser esse. A abordagem a ser seguida deveria focar em mostrar a situação peculiar dos gastos previdenciários em relação à proporção de idosos na população. Nesse ponto a econometria pode nos ajudar com a chamada “análise dos resíduos” . Vejam o diagrama abaixo, gerado pelo site mercadopopular.org, com dados do Banco Mundial e do Ministério do Planejamento.

Gasto vs população idosa

O diagrama é a representação gráfica de uma análise de regressão linear simples com dados de vários países no mundo. A reta representa um modelo que prevê a porcentagem do gasto previdenciário do governo em relação ao PIB, dada uma certa proporção de idosos na população. Para a proporção de idosos do Brasil (aproximadamente 8% da população total), o modelo prevê um gasto previdenciário em torno de 4%. Mas, na realidade, o gasto do governo brasileiro com previdência é de aproximadamente 12% (a seta pontilhada em vermelho mostra o desvio em relação à previsão do modelo; em econometrês, a gente fala em “resíduo”). Três vezes mais. O gasto previdenciário atual do Brasil equivale ao gasto da Alemanha, que tem cerca de 15% do idosos na sua população. Essa proporção alemã é o dobro da brasileira. Se nada fizermos, quanto gastaremos com previdência quando tivermos 15% de nossa população composta por idosos?

Um outro argumento que pode ser brandido é o já desproporcional peso que os gastos previdenciários assumem no orçamento federal. A previdência responde por 38% desse orçamento em 2016, seguida por juros (20%), Saúde (7%), Educação (5%) e outras rubricas (30%).

Esse quadro aponta para um futuro sombrio. Para financiar a Previdência, se nada for feito, o país tem estas opções à mesa: a) aumentam-se mais ainda os impostos, reduzindo a produtividade e a competitividade do país; b) eleva-se o endividamento do governo, subindo os juros pagos (mas, sabemos que isso tem um limite); c) imprime-se a nossa colorida moeda para pagar os gastos, gerando inflação. É, meus caros, vale sempre a máxima: em economia, não existe almoço gratuito.

Para qualquer pessoa que deseje o bem para o país, esse quadro mostra-se insustentável. Urge alterá-lo para o próprio bem-estar da sociedade. Como se mostrou aqui, existe um alto preço a ser pago por deixar a coisa como está para ver como é que fica.

Trilha Sonora do Post

Se não se fizer a Reforma, é provável que Djavan tenha que reescrever a letra da sua canção, incluindo os novos impostos a serem criados para financiar os gastos.

Carne Fraca ou Inferência Fraca?

março 29, 2017

photo of cattle on grass field

Photo by julie aagaard on Pexels.com

A sociedade brasileira foi surpreendida pela operação “Carne Fraca” da Polícia Federal deflagrada no dia 17 de março ao descobrir que, segunda a própria divulgação da PF, estava consumindo carne pobre, com papelão, salmonela e, last but not least, “substâncias cancerígenas”. A PF anunciou que graves problemas no sistema de fiscalização punham em risco a saúde pública em todo o país. Teve muita gente que virou vegetariana imediatamente depois de assistir ao Jornal Nacional.

Essa conclusão aterradora foi extraída da investigação de 21 frigoríficos. Essa foi a amostra utilizada pela PF para inferir sobre a qualidade da carne consumida pelos brasileiros. Qual é o universo (ou população) de frigoríficos no Brasil? 4.837.

A pergunta fundamental é se aquela amostra de 21 frigoríficos é representativa do universo de 4.837 frigoríficos? Dificilmente, até porque não consta que os policiais federais tenham feito uma vaquinha a fim de contratar um estatístico para sortear essa amostra. Ah, tem mais uma coisinha: apenas um frigorífico teve sua carne periciada na investigação, constatando que estava deteriorada. Logo, n=1!

Meus caros, a carne não é fraca. Fraca é a inferência estatística nessa estória toda!

Voltando à vaca fria, existem duas formas de se descobrir uma característica da população: ou por censo ou por amostragem. A fiscalização da carne no Brasil é feita em caráter censitário, ou seja, todos os frigoríficos são checados. Cada fiscal é responsável em fiscalizar o mesmo frigorífico todo o santo dia. Não é de espantar que surgiu propina aí. Esse é o dilema da fiscalização: quem fiscaliza o fiscal?

Saber se a carne do universo de frigoríficos é de boa qualidade poderia ser feito por amostragem. Toda rodada de fiscalização seria feita por meio de uma amostra representativa do universo de frigoríficos. Com isso, em vez de ter 4.837 fiscais, haveria uma pequena parcela desses senhores, economizando o dinheiro do respeitável público brasileiro.

Trilha Sonora do Post

“Bring on the Dancing Horses” da banda Echo and Bunnymen. Horses?! Ok, ok, apesar do Horses no título, tem uma vaquinha no vídeo…