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Bomba Monetária

maio 10, 2016

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A principal causa da inflação é o crescimento da oferta de moeda na economia. Isso é sabido faz muito tempo em economia. O experimento natural da revolução dos preços no século dezesseis forneceu uma das primeiras evidências dessa teoria, denominada de teoria quantitativa da moeda.

Vale a pena recordar esse experimento fornecido pela história. A Espanha cunhou uma grande quantidade de moeda a partir de metais preciosos (prata e do ouro), explorados nas minas do Novo Mundo. Por meio do comércio internacional, essa dinheirama espalhou-se pelos outros países europeus. O que se viu depois dessa expansão monetária foi um continuado aumento do nível de preços na Europa ao longo do tempo, ou seja, inflação.

Mesmo que de forma intuitiva, os nazistas na Segunda Grande Guerra conheciam a teoria quantitativa da moeda e queriam usá-la para destruir o Reino Unido, coisa que nem a Luftwaffe conseguira com os seus aviões, jogando bombas convencionais sobre o território britânico!

A ideia era simples, mas com um quê de diabólico: fabricar em um campo de concentração, usando trabalhadores judeus escravizados, uma enorme quantidade de libras esterlinas falsas e jogar de avião sobre todo o Reino Unido. As pessoas pegariam as cédulas nas ruas das cidades e gastariam na compra de bens e serviços. Como a produção de bens e serviços não conseguiria aumentar no mesmo ritmo dessa instantânea expansão monetária, a consequência seria o surgimento de uma hiperinflação, desorganizando e destruindo completamente a economia britânica.

Note o requinte da maldade: o Reino Unido enfrentaria uma hiperinflação ao mesmo tempo que estaria envolvida num enorme esforço de guerra. Os nazistas estavam construindo uma verdadeira bomba monetária!

E a bomba monetária é muito poderosa: deixa os prédios intactos, as pessoas vivas, mas destrói todos os mercados com a perda da função de meio de troca da moeda. Numa hiperinflação, ninguém quer a moeda nacional, pois ela desvaloriza-se mais rápido do que o tempo gasto para escrever esse parágrafo.

O oficial alemão responsável em construir a bomba monetária foi o major Bernhard Kruger no campo de concentração de Mauthausen. Ele recrutou o judeu Salomon Smolianoff, um famoso falsário da época, especializado em reproduzir perfeitamente dinheiros e documentos. Smolianoff foi obrigado a coordenar diretamente a produção das libras esterlinas, chefiando uma equipe de trabalhadores judeus.

Sem deixar os alemães perceberem, Smolianoff e os trabalhadores sabotavam a operação, atrasando a falsificação do dinheiro. Felizmente para o mundo livre, os nazistas nunca tiveram em mãos a quantidade de dinheiro falso suficiente para detonar a bomba monetária.

Essa história foi contada no cinema pela produção “Os Falsários”, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008, cujo trailer vem a seguir:

Em tempo: Salomon Smolianoff sobreviveu àquela barbárie. Depois da guerra, ele voltou à sua vocação profissional: começou novamente a falsificar dinheiro na Itália. Quando foi descoberto, ele fugiu para a América do Sul. Para qual país, arguto leitor? Qual país, hein? Quem adivinha?

Ganhou um sorvete chicabon, como diria o dramaturgo Nelson Rodrigues, quem respondeu “Brasil”. Mais especificamente para Porto Alegre, morrendo por aqui em 1977. Não se sabe ao certo se ele tentou, por estes tristes trópicos, falsificar cruzeiros, a moeda brasileira da época. Provavelmente, não. Smolianoff gostava mesmo era de falsificar moedas fortes.

Trilha Sonora do Post

“Money” de Pink Floyd: