A boa notícia foi a redução da criminalidade do Estado de São Paulo no primeiro trimestre do ano: 9,9 homicídios por 100 mil habitantes. Só para comparar, a média brasileira é de 26 homicídios por 100 mil habitantes, enquanto que a taxa de homicídios do RJ é de 28 homicídios por 100 mil habitantes; o estado que ostenta mais crime é Alagoas (60,3). O avanço de SP é impressionante nos últimos doze anos. Em 1999, a taxa de crime de SP era 35,3 por 100 mil habitantes, equivalente ao do RJ naquela época. Ou seja, em pouco mais de dez anos, o crime caiu mais de 70% no Estado!
O interessante é como muita gente interpreta a queda desse número. Alguns dizem que o principal responsável pela redução do crime seria o crescimento econômico vivenciado pelo Estado nesse período. Para outros estudiosos, o principal seria o desarmamento da população, ocorrido em meados desta década.
O problema com essas explicações é que elas não se sustentam. Outros estados que tiveram crescimento econômico e desarmamento mostraram um aumento de sua criminalidade. Aparentemente, o determinante da redução do crime reside em outro fator.
Como atestam estudos econométricos em várias partes do mundo, repressão policial e leis mais duras têm impacto efetivo sobre a criminalidade. Mas captar esse efeito causal é preciso contornar um problema comum em estudos econométricos, o problema da causação reversa. Regiões que costumam ter mais crime clamam por segurança e acabam tendo mais policiais. Se não tomar certos cuidados metodológicos, pode-se considerar que mais polícia leva a mais crimes! Na verdade, controlando-se para essa fonte de endogeneidade (como os economistas classificam uma situação desse tipo), mais repressão policial leva a menor criminalidade.
Esse tipo de problema tende a ocorrer em campos da ciência em que não é possível fazer experimentos controlados. A Economia trabalha com dados observados e não-experimentais. Crime é um caso interessante de endogeneidade entre crime e número de policiais. São Paulo confiou nessa relação teórica em que num modelo de crime, mais repressão policial conduz a menos crime. O Estado investe todo ano 18 bilhões de reais em segurança pública. O Estado de São Paulo prende mais bandidos no país: tem mais de 50% da população carcerária do Brasil. Não tem nenhum líder do PCC, a organização criminosa mais famosa do Estado, fora de presídio.
O ponto que defendo é de que, além da quantidade de polícia, houve considerável melhoria da eficácia da atuação da polícia. Isso começou com o georeferenciamento dos BOs registrados nas delegacias dentro do programa Infocrim. Os vários tipos de delitos são georeferenciados e mapeados. A partir daí, analisando manchas de crime nos mapas, é possível fazer um melhor planejamento do combate ao crime, bem como a distribuição da força da polícia entre os distritos de uma cidade. Concordo com a opinião de que o aumento dos efetivos policiais e aumento da detenção de bandidos são fatores relevantes para explicar o decréscimo do crime em SP. Minha hipótese é de que, além desses fatores, a eficácia da atividade policial foi talvez o maior fator explicativo dessa redução.
Apesar de ser uma ótima notícia, é bom ter consciência que, mesmo para o Estado de São Paulo, ainda tem um longo caminho a trilhar para chegar próximo de países mais desenvolvidos. Só para se ter ideia, a taxa de homicídios dos EUA é de 6 por 100 mil habitantes, ao passo que o crime no Japão (é bom, caro leitor, sentar antes de ler isso) são míseros 0,4 homicídios por 100 mil habitantes!
Trilha Sonora do Post
“Janie´s got a gun” do Aerosmith: